

Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso

Chegou em Cruz das Almas em 06 de março de 1966, sendo recebido pelo Padre Deraldo Esteves de Lima. Aqui permaneceu até 2020, quando retornou à casa do Pai. Foi Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso por 44 anos e Pároco Emérito por mais 10 anos. Pelas mãos operosas do Mons. Neiva muitos movimentos de igreja, como o Cursilho de Cristandade, o Encontro de Casais com Cristo, a Renovação Carismática, a Devoção à Mãe e Rainha Três Vezes Admirável, o Terço dos Homens e o Escalada, chegaram e se estabeleceram em Cruz das Almas. Foi agraciado com o título de cidadão cruzalmense.

Monsenhor Neiva e os Grupos de Jovens
Monsenhor José de Souza Neiva foi um grande incentivador da participação da juventude na vida da igreja, em toda a região do seu pastoreio, mas sobremaneira na Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso, onde fincou seus esforços para que a juventude se encorajasse em mostrar o rosto de Jesus Cristo. Levou adiante as palavras do Papa Bento XVI quando afirmou: “sem o rosto jovem a Igreja apresentar-se-ia desfigurada”.
Monsenhor Neiva acreditava que o papel primordial dos jovens na vida da Igreja é de transformação da sociedade. Por esta razão lutou de forma árdua para a implantação de grupos de jovens em toda região que estava sob sua orientação. Desta forma, ele incentivou os jovens na obediência e perseverança aos princípios cristãos, motivou as famílias a viverem em união e a honrarem seu compromisso com o sacramento do matrimônio, caminhando numa conduta cristã, orientando-os no crescimento do ministério como filhos de Deus. É desta forma que hoje temos muitos casais que foram acompanhados por ele e que vivem harmoniosamente.
Como em toda época, as dificuldades financeiras estavam presentes, porém ele não media esforços para que os recursos destinados à evangelização dos jovens se efetivassem para jornadas, retiros, formações, EFAP... Assim é que fazia questão de estar presente nas reuniões dos grupos afim de conduzir os destinos dos mesmos sob a ótica cristã, num verdadeiro zelo pela juventude. Foi um grande incentivador para a chegada de movimentos, como aconteceu com o Escalada. Ele percebendo a importância de tal movimento, juntamente com o Monsenhor Sadoc, e com o apoio e entusiasmo de Manelinho, hoje Padre Manoel Filho, trouxe para nossa Paróquia o Escalada, tendo como Paróquia madrinha Nossa Senhora da Vitória, em Salvador. Foi um grande desafio, pois toda a equipe veio de lá. Aqui contamos com o apoio de casais paroquianos, que se dedicaram de forma incondicional para esta implantação, que este ano, 2023, completa 30 anos. Este foi Monsenhor José de Souza Neiva, o grande pároco da juventude.
Texto produzido por Isabel do Escalada

Monsenhor Neiva e o Concílio Vaticano II
Para entender esse momento da vida pastoral do Mons. Neiva e a relevância dele para a Igreja na Arquidiocese de Salvador e na Paróquia de Cruz das Almas, em particular, necessário se faz duas explicações. A elas.
O que é um Concílio? Essa é a palavra de origem latina que expressa uma das características fundamentais do agir da Igreja desde as suas origens, ou seja, os conselhos. Logo no início da sua existência a Igreja toma grandes decisões nos concílios, o primeiro dele em Jerusalém, como nos relata o livro dos Atos dos Apóstolos no seu capítulo 15.

Inúmeros concílios aconteceram na história da Igreja, com destaque para aqueles que decretaram dogmas, como o de Éfeso, em 431, sobre o Dogma da Mãe de Deus. Também o de Trento, em 1545 e 1563, é muito conhecido por suas respostas pastorais à Reforma Protestante.
O último realizado foi o Concílio Vaticano II, entre 1962 a 1965. Foi convocado por São João XXIII com o objetivo de aggiornar a Igreja para as realidades do mundo moderno, conforme afirmou o papa santo. Em 1963 o Papa Bom morreu e foi sucedido por São Paulo VI que deu continuidade ao concílio que trouxe a Igreja para a realidade do mundo atual, realizando a intuição daquele que o concebeu como sopro do Espírito Santo para fazer a Igreja de Cristo atravessar o mar da modernidade.
Assim vimos chegar a Reforma Bíblica, a Reforma Litúrgica, o protagonismo laico, o aprimoramento do conceito de Povo de Deus para um eclesiologia de comunhão e participação e tantos outros avanços impulsionados pela força criativa do Deus da vida e da História.
Tendo posto em brevíssimas linhas o contexto da Igreja Universal, vamos nos encontrar com José de Souza Neiva.
Nascido em 1917 numa família católica, viveu o ser Igreja numa perspectiva pré Vaticano II, com a Missa em Latim, conforme o antigo rito, sem fácil acesso à Palavra de Deus para ser lida e refletida e inúmeras características próprias do seu tempo. Em 1942 foi ordenado padre, 20 anos antes da abertura do Concílio. Foi, portanto, um padre pré conciliar. As primeiras duas décadas do seu ministério sacerdotal foram vividas segundo aquele jeito de ser igreja.
Quando chegou em Cruz das Almas, em 1966, as Sessões Conciliares estavam a pleno vapor e alguns documentos já estavam publicados, como o que se torna a base de todos os outros, pois apresenta a visão da Igreja sobre si mesma e sua ação no mundo, a Constituição Dogmática Lumen Gentiun Sobre a Igreja, publicada em 1964.
Podemos afirmar que o início do pastoreio do Mons. Neiva na Paróquia Nossa Senhora do Bom Sucesso foi marcado pela implantação do que era definido pelo concílio, no seu jeito de compreender o ser e o agir da Igreja.
Um dia esse cronista, com vinte anos, no máximo, tendo que preparar uma palestra sobre Igreja para apresentar em um encontro de jovens e tendo que falar sobre as mudanças trazidas pelo Vaticano II para a vida cotidiana das comunidades, perguntou ao padre já idoso como foi aquele tempo.
Ele, bem ao jeito Pe. Neiva de ser, respondeu:
- Manelinho, a gente queria muito que mudanças ocorressem. Mas preferíamos não falar muito.
Ocorridas as mudanças, ele as abraçou com firmeza e presteza.
Aquele homem austero e rigoroso, sábio e prudente, foi implantando tudo que o Vaticano II apontou.
A começar pela Liturgia, sem deixar o rigor litúrgico em um momento sequer, avançou no vernáculo, no uso de instrumentos da cultura popular, nos paramentos conforme as novas determinações. Sem a sofreguidão dos insensatos e sem os saudosismos dos que não cofiam na ação do Espírito Santo.
Já nos anos setenta do século passado, começaram a surgir os Grupos de Jovens, sendo o Santo Antônio, de Cruz das Almas, dos primeiros da Arquidiocese de Salvador. Não sem alguma crise, os jovens de calça “boca de sino” conviveram com as senhoras das antigas irmandades e confrarias. E a Missa com Crianças, acolheu pequenos e suas famílias, com as Histórias de Tia Corina caindo no coração dos pequenos que, mais tarde se tornariam lideranças na comunidade e na Igreja.
Ele foi rápido em reconhecer a importância e protagonismo dos leigos e leigas, como expressa o Decreto Ad Gentes Sobre a Atividade Missionária da Igreja, no parágrafo 936: “A Igreja não se acha deveras consolidada, não vive plenamente, não é um perfeito sinal de Cristo entre os homens, se aí não existe um laicato de verdadeira expressão que trabalhe com a hierarquia”.
A adesão livre ao concílio, no que tange ao laicato, ficou muito clara com a quantidade de expressões que, ao trazerem homens e mulheres para o seio da comunidade paroquial, davam-lhes formação para o reto exercício de uma plena cidadania eclesial. Assim foi que ele, também animado pelos ventos do governo diocesano de D. Eugênio de Araújo Sales e, marcadamente, de D. Avelar Brandão Vilela, implantou em Cruz das Almas o Cursilho de Cristandade, a Renovação Carismática Católica e o Encontro de Casais com Cristo sem, no entanto, menosprezar expressões tradicionais como o Apostolado da Oração, dando-lhe fôlego renovado pelos ventos pós conciliares.
Monsenhor Neiva era homem de sínteses e, como tal, atravessou a ponte da história que levava ao jeito de ser Igreja sonhado pelo Espírito Santo e levado a cabo pelos Santos João XXIII e Paulo VI com a serenidade de quem une lados e sabe que o melhor caminho sempre é aquele que faz unido, como povo. O Povo de Deus.

Texto por
Pe. Manoel de Oliveira Filho
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Vigário Episcopal para a Cultura, Educação e
Comunicação da Arquidiocese de S. Salvador da Bahia -
Coordenador Nacional da Pastoral do Turismo
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Provedor da Irmandade de São Pedro do Clérigos
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Pároco da Paróquia Ascensão do Senhor – CAB
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Capelão da Universidade Católica do Salvador
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Assistente Eclesiástico do Movimento Escalada
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Professor na Escola de Humanidades da UCSal
